O setor imobiliário é responsável por cerca de 37% do total das emissões de carbono. Já ouvimos ou lemos esta frase em quase todos os meios de comunicação social, quer sejam notícias, entrevistas ou artigos de opinião. Esta verdade incontornável fez acelerar o momento de transição no setor imobiliário e fez com que este se tornasse parte integrante da solução.
O Plano Europeu tem contribuído para esta aceleração, uma vez que agora é possível definir se uma atividade económica é sustentável. Os visados, instituições financeiras, fundos de investimento, entidades gestoras e empresas, são assim objetivamente comparados, tornando de forma clara o posicionamento das empresas umas em relação às outras, permitindo o encaminhamento dos seus investimentos para atividades sustentáveis.
Este modelo veio assim combater o greenwashing que aos poucos emergia, com vários players gritando a plenos pulmões que eram sustentáveis mesmo sem o serem. Agora, todos deverão responder de forma uniforme e transparente com as medidas que adotam ao nível do ambiente, impacto social e governança.
As metas definidas pelo Acordo de Paris envolvem setor público e setor privado, uma vez que o esforço financeiro para se atingirem os objetivos obriga ao envolvimento de todos e é por isso de grande importância a definição de estratégias que direcionem o investimento para produtos sustentáveis e alinhados com o cumprimento das metas que foram traçadas.
Este caminho faz-se, não tenhamos ilusões, por motivações financeiras. ESG, sustentabilidade, descarbonização, são assuntos incontornáveis nos dias de hoje, não porque estejam na moda, mas porque teve início uma consciencialização financeira para a importância destes temas e para o facto de que, quem não encarar estes temas como oportunidades de mercado, sofrerá sem dúvida os riscos de não o ter feito.
As atividades económicas relacionadas com construção e setor imobiliário estão incluídas neste espectro de visados que tem o dever de reportar e de se assumir claramente como sendo sustentável, não só a nível corporate (política interna da empresa), como dos seus investimentos, nomeadamente, ativos imobiliários.
As exigências nesta matéria, no âmbito do parque edificado, quer seja novo ou existente, são muito ambiciosas. O objetivo de atingir a neutralidade climática até 2050 obriga a que se tomem ações imediatas ao nível da redução do consumo energético e das emissões de gases com efeito de estufa. A nova EPBD (Energy Performance of Buildings Directive) define, por exemplo, que o desempenho energético dos edifícios não residenciais e edifícios públicos deve atingir a classe E até 2027 e a classe D até 2030. Os edifícios residenciais têm como meta 2030 para a classe E e 2033 para a classe D.
Os gestores de fundos com ativos imobiliários necessitam de recorrer a ferramentas que lhes permitam ter uma visão global dos seus portfólios e enquadrá-los em critérios mensuráveis e comparáveis. Os referenciais propostos no âmbito das certificações BREEAM, LEED e WELL incorporam em cerca de 60% as diretrizes da taxonomia europeia e apresentam-se como um excelente ponto de partida para que os players alinhem os seus ativos com as exigências ESG, fornecendo-lhes assim guidelines para um trabalho de melhoria contínua.
Estes selos estão a ter uma evolução crescente no mercado imobiliário por vários motivos. Não sendo obrigatória, a obtenção de um selo BREEAM ou LEED demonstra o compromisso do detentor dos ativos com a sustentabilidade, mas acima de tudo, a preocupação com o valor líquido daqueles, que assim se tornam mais atrativos para investidores.
As conclusões do relatório Revolution – An ESG Roadmap for Real Estate, da WORX Real Estate Consultants, demonstram bem esta realidade, tanto do lado de proprietários como de inquilinos:
- 91% dos proprietários de ativos de escritórios acredita que as certificações podem vir a proporcionar uma redução dos custos operacionais e 100% acredita que estes selos representam uma valorização no valor da venda dos ativos.
- 65% dos ocupantes de escritórios considera que a sua organização estaria disposta a pagar mais por espaços de escritórios certificados e 50% dos ocupantes apresentam metas para a redução de emissões de CO2.
Estas preocupações do lado dos inquilinos vão ao encontro da entrada em vigor a 5 de janeiro de 2023 da Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), que estabelece obrigações de reporte para empresas não financeiras e que impactará, a médio prazo, um número muito significativo de empresas.
Estamos perante um cenário de mudança que está a acontecer a um ritmo muito acelerado e as oportunidades para quem quer apanhar este barco surgem agora, sob pena de ficarem para trás e com riscos financeiros significativos. A curto prazo, os ativos imobiliários que não exibam um selo BREEAM, LEED ou WELL, ou outra certificação de sustentabilidade, perderão liquidez e estarão certamente fora do radar de investidores.
Artigo de opinião de Andrea Santos – Real Estate Sustainability, publicado no Ambiente Magazine, dia 14 maio de 2023.